sábado, 26 de abril de 2014

XVIII Encontro Nacional de Economia Política: Carta do Belo Horizonte


Conheça o conteúdo da carta de Belo Horizonte, resultado do XVIII Encontro Nacional da SEP que aconteceu na capital mineira, em 2013.

CARTA DE BELO HORIZONTE 

A crise capitalista atual continua deteriorando as condições de vida dos trabalhadores em todas as partes do mundo e, mais recentemente, também na Europa. A lógica desenfreada da busca pelo lucro e a progressiva concentração da renda e da riqueza que a acompanha resultou em uma crise que afeta todos os setores e regiões de forma generalizada. A “pretensa” ajuda financeira aos países mais afetados, capitaneada pelo Banco Central Alemão, Comissão Européia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional, veio acompanhada de uma receita já conhecida: redução dos salários, aumento do desemprego, corte de direitos sociais, aumento de impostos etc.

Com isso, a austeridade fiscal baseada na ideologia ortodoxa elevada ao extremo arrasta segmentos inteiros da sociedade à exclusão e ao empobrecimento. Por todo o continente europeu o desemprego atinge níveis que não eram vistos desde a grande depressão do século passado. Assim, literalmente esmagados pelos dois lados do aperto, menos salários e benefícios sociais e mais impostos, as condições de vida da classe trabalhadora europeia vêm se agravando cada vez mais.

A crise revelou não só os limites do capitalismo, como também a completa incoerência do credo ideológico dominante presente na concepção dos mercados eficientes fundados em indivíduos racionais imaginários que sustentam suas crenças na eficiência alocativa dos mercados financeiros.

Esta crise, se por um lado provocou uma radicalização sem precedentes da ideologia ortodoxa irracional, por outro, a catástrofe econômica e social que se vislumbra fez estimular a luta daqueles que partilham de visões alternativas. Ela não só aumenta o engajamento em temas e teorias críticas, reanimadas frente ao debacle da teoria neoclássica como, e mais importante, voltam à tona os movimentos sociais impulsionados pela necessidade de reagir aos sacrifícios a que estão sendo submetidos os trabalhadores.

Mesmo que essa crise geral do capitalismo tenha seu epicentro nos países centrais e aí provoque os seus efeitos mais deletérios, ela também se faz presente nos países da periferia. Difundida pelas conexões dos mercados financeiros globalizados e pelo impacto provocado no comércio internacional, a crise se expressa de maneira crescente na deterioração dos balanços de pagamentos.

No Brasil, depois de alguns anos de crescimento econômico com algumas melhorias sociais, observa-se no presente que a crise da Europa e dos Estados Unidos, bem como a pressão interna por um retorno à ortodoxia, expressam-se na queda acentuada do crescimento e no fim da ilusão de nosso isolamento em relação à crise. A deterioração do Balanço de Pagamentos é o exemplo que mais claramente explicita nossa fragilidade. Em nosso país, também o Governo ensaia sua própria política de austeridade com restrições de gastos em áreas essenciais. Além disso, os recentes aumentos da taxa básica de juros implicam no aumento dos gastos com pagamento dos juros da dívida pública, reduzindo as disponibilidades de recursos para gastos sociais e investimentos públicos.

Diante desse quadro, a Sociedade Brasileira de Economia Política - SEP – reitera os seus compromissos com o pensamento econômica crítico e com a construção de uma sociedade mais igualitária e justa, conclamando seus associados, bem como a sociedade brasileira em geral, a resistir aos ataques contra os interesses daqueles que mais necessitam da intervenção do Estado para garantir condições de vida dignas para todos, em especial, a classe trabalhadora.

Sociedade Brasileira de Economia Política (SEP)

Belo Horizonte, 31 de maio de 2013.

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