Com a eleição da nova diretoria da Sociedade Brasileira de Economia Política na noite do dia 02 de junho, o grupo que esteve à frente da entidade, com Niemeyer Almeida Filho na presidência, divulgou o relatório da gestão. Conheça!
RELATÓRIO GESTÃO 2014-2016
Na nossa carta programa, apontávamos que a crise sistêmica do capitalismo continuava se manifestando fortemente, embora estivesse em processo de mudança de forma. A princípio ela havia se manifestado fortemente no centro do sistema – no Japão, em seguida nos Estados Unidos e na Europa, alcançando a partir de 2013 as economias periféricas, trazendo instabilização macroeconômica e derrubando cabalmente o discurso ideológico do acerto das políticas econômicas neoliberais adotadas pela maioria dessas economias no período dos anos 1990 e 2000. Terminávamos dizendo que mantidas as políticas econômicas, não haveria futuro promissor no horizonte para as sociedades, sobretudo as da América Latina.
No ENEP de 2014 em que as eleições ocorreram e a carta programa foi divulgada, tivemos como tema central o Neodesenvolvimentismo. O evento foi organizado para evidenciar que as diferentes vertentes brasileiras mostravam limites evidentes. A posição majoritária era que as proposições de políticas econômicas não alcançavam as dimensões da crise, engendrando um debate social desconectado, incapaz de lidar com as diferentes questões das sociedades capitalistas dependentes subdesenvolvidas. As ações de Governo e, sobretudo, as de Estado exigiriam discutir transformações efetivas da institucionalidade e da política de desenvolvimento brasileiras, inviáveis em circunstâncias de correlação de forças sociais conservadoras. Muito ao contrário, o foco da discussão estava na manutenção da estabilidade, sob o regime de metas inflacionárias - quando muito alcançando o regime cambial; o crescimento, com concessões públicas ao capital; e a distribuição de renda, restrita ao aumento real do salário mínimo e às ações de transferência de renda, ambas submetidas ao teto do aumento da produtividade média do trabalho.
Essa nossa posição política lamentavelmente mostrou-se agudamente na realidade concreta daquele ano de 2014, e mais ainda nos anos de 2015 e 2016. O espaço político institucional – Congresso Nacional, órgãos e fóruns do Executivo – esfacelou-se pelas evidências tanto de corrupção quanto de ausência de perspectiva pública nos marcos limitados da chamada “visão republicana”. A representação política, historicamente vinculada aos interesses dominantes, fragmentou-se e os movimentos sociais atuaram sem coordenação, engendrando uma perigosa condição de instabilidade social.
Nessas circunstâncias, a SEP manteve-se firme no fortalecimento do pensamento crítico, da qual ela vem sendo avalista desde a sua fundação. Durante o período de plena dominação do projeto neoliberal, ou do pensamento único, poucas vozes se atreveram a contesta-lo, mostrando as contradições de suas políticas. A Sociedade Brasileira de Economia Política - SEP foi uma delas, e o seu papel crítico consolidou-se por meio de seus encontros nacionais, pela participação e contribuição em eventos de outras instituições, tanto nacionais quanto internacionais, e por meio da publicação da revista e de inserções no seu site. Tudo isto foi mantido e ampliado nos últimos dois anos.
A SEP é, hoje, amplamente reconhecida como a sociedade que agrega e dá espaço ao pensamento crítico. Por isto mesmo, sem ferir o compromisso com o pluralismo e, sobretudo, com a qualidade acadêmica, priorizamos, em todas as instâncias, a escolha e a divulgação de trabalhos de natureza heterodoxa. Procedendo assim, compensamos, pelo menos quanto à nossa expressão e espaço social, o virtual monopólio concedidos aos trabalhos inspirados pelo Neoliberalismo, no vasto espaço dominando pelo mainstream da Economia.
Assim, entendemos que os compromissos assumidos pela Chapa que assumiu a diretoria nestes últimos dois anos consolidaram a tradição dos seus dezoito anos de atividade. Destacamos as seguintes ações:
1. Apoio à consolidação da SEPLA, dirigida pelo companheiro Marcelo Dias Carcanholo, eleito para cumprir mandato de dois anos como presidente. A SEPLA hoje está reorganizada e com ampliação da militância em diversos países da América Latina;
2. Cooperação com a WAPE – World Association for Political Economy, mantendo-se o professor Niemeyer Almeida Filho como ativo vice-presidente para a América do Sul;
3. Cooperação com a IIPPE – International Iniciative for Promoting the Polítical Economy, com participação regular de companheiros da SEP nos eventos anuais da organização. Além disso, o professor Alfredo Saad Filho, um dos diretores da IIPPE é membro da Direção Ampliada da SEP e coordenador do GT do Pensamento Marxista;
4. Fortalecimento do papel dos GTs da SEP, que hoje são em número de sete: GT – Teoria Marxista da Dependência, GT – HPE Brasileira, GT – Estado e Políticas Públicas, GT – Economia Política da Macroeconomia, GT – Economia e Território, GT – Pensamento Marxista e GT – Economia Política da Amazônia;
5. Manutenção da Direção Ampliada, contando assim com uma ampla representação política dos associados;
6. Informatização do processo de submissão, seleção e divulgação dos trabalhos dos ENEPs;
7. Redesenho e informatização da Revista da SEP. O professor João Leonardo Medeiros, o editor da revista, promoveu uma reorganização do processo de submissão dos artigos, mantendo a revista regularmente em dia. A linha editorial foi mantida, cumprindo a revista o objetivo maior de dar divulgação ao pensamento crítico.
Destacamos ainda as atividades de apoio e estímulo à organização de Encontros Regionais sobretudo dos GTs. Mantivemos nossas atividades e participações na ANPEC, assim como fortalecemos os laços com a ANGE e a SEPLA.
Como estímulo à produção em Economia Política, abrimos espaço aos estudantes de graduação que ficam isentos de pagamento de inscrições nos ENEPs. Sempre que possível, como é o caso do XXI ENEP, apoiamos a vinda de grupos com financiamento de hospedagem e ampliação dos minicursos. Além disso, alteramos a data de realização dos ENEPs para períodos letivos regulares, estimulando assim a ampla participação de estudantes.
Em síntese, avaliamos que cumprimos as nossas intenções expressas na carta programa apresentadas na XIX assembleia geral de 2014. Reiteramos que a SEP está fortalecida e em condições de atuar na crítica social e na mobilização que entendemos ser indispensável para enfrentar a conjuntura adversa de ascensão do conservadorismo no Brasil.
Diretoria 2014 - 2016
Presidente: Niemeyer Almeida Filho (IE-UFU)
Vice-Presidente: João Ildebrando Bocchi (PUC-SP)
Diretores:
Lauro Mattei (UFSC)
Maria de Mello Malta (UFRJ)
Pedro Rossi (UNICAMP)
Octavio Conceição (UFRGS)
Ellen Gracy Tristão (UFVMJ)
Paulo Henrique Furtado de Araújo (UFF)
Frederico Katz (UFPE)
Fábio Freitas (ANPEC)
Rubens Rogério Sawaya (ANGE)